Litoral noroeste espanhol tem opções de paisagens turísticas
paradisíacas e também misteriosas

Quem aterrissa em Vigo, em um dos braços de mar do recortado litoral da Galícia, no noroeste da Espanha, aterrissa em vários lugares: em Pontevedra e Baiona, de vielas labirínticas e históricas que alternam silêncio e alacridade; nas breves e amenas Ilhas Cíes, que os romanos chamaram “ilhas dos deuses” e os monges medievais adotaram; na Península do Morrazo, ideal para passeios azuis-claros por praias e vilas; e claro, na própria Vigo, destaque em arte, história e gastronomia galegas.
Isso para se concentrar em lugares entre 20 e 50 minutos de carro ou barco a partir do centro de Vigo. Um pouco mais além surgem os arquipélagos de Ons e de Sálvora, Santiago de Compostela (a 95 km) e a cidade do Porto, já em Portugal (154 km).
Praia de Rodas, nas Ilhas Cies.

Vigo honra a alma oceânica galega no Museu do Mar da Galícia, expõe mais de cem obras de dois renomados pintores da região na Casa das Artes e concentra temas atuais no Museu de Arte Contemporânea, o Marco. Uma visita a esses lugares combina com um passeio pela Rua Policarpo Sanz, concentração de pontos culturais e prédios de granito ecléticos e modernos.
O centro histórico guarda delícias galegas como o pimientos de padrón (pequenos pimentões verdes), o percebes (crustáceo apanhado na parte submersa de pedras onde há marés altas) e o polvo à feira (no preparo galego, cozido com azeite, páprica e sal), acompanhados de um Albariño, vinho da região e do norte de Portugal. À noite, é um prazer fazer o tapeo – provar tapas de bar em bar – em estabelecimentos que vão dos mais simples, na Praça da Igreja, a opções de cozinhas mais dedicadas, como a da taverna Baiuca e da taperia La Sabrosa. Para noites musicadas com indie e rock, a Rua Churruca e seu entorno são a referência.

As Cíes são três: as ilhas de Monteagudo e do Farol, conectadas naturalmente por uma praia e artificialmente por um molhe, e a de San Martinho, 500 metros afastada ao sul. A (pequena) infraestrutura turística fica nas duas primeiras, que têm um camping, um bar, uma sanduicheria, um minimercado e três restaurantes. É o suficiente para um lugar onde o que importa são praias, trilhas, mergulho, caiaque, vegetação e vistas, das panorâmicas buscadas de dia à Vigo tremeluzente, a cerca de 15 km dali, contemplada à noite.
A ida às ilhas não implica o pernoite, a viagem de barco leva 45 minutos, e você pode voltar no mesmo dia. Se quiser ficar, mas livre do empenho de levar barraca, o camping oferece pequenas cabanas simples com camas de casal para duas ou quatro pessoas.
Herança compartilhada
Os cascos vellos (centros antigos) de Baiona e Pontevedra estão entre os mais vivos e fascinantes da região. As duas são cidades pequenas, mas de grande relevância histórica. A prosperidade, que na Baixa Idade Média foi ampliando as muralhas de Pontevedra, a converteu em um dos principais portos europeus no século 16. Em 1467, Henrique IV concedeu à cidade o privilégio de um mercado livre por um mês. O marco foi recuperado no ano 2000 e se tornou a Feira Franca.
Um busto de Cristóvão Colombo na fachada da Basílica de Santa Maria e seu sobrenome inscrito em um dos altares servem para sustentar a teoria de que o navegador nasceu ali. Ela não tem muito suporte, mas é aceito que a caravela Santa Maria, uma das três da primeira viagem de Colombo à América, foi construída na cidade, então a mais populosa da Galícia e de grande importância pesqueira.
Baiona, por sua vez, foi quem primeiro recebeu a notícia da chegada de Colombo ao continente americano, como atesta um mural de azulejos sobre a caravela Pinta, que atracou ali em 1.º de março de 1493. Uma réplica da embarcação foi construída no quinto centenário do descobrimento e é um museu.
Pelo centro antigo de Vigo
A Galícia não tem apenas praias exuberantes. Veja mais atrativos:
1.Estátua de Júlio Verne
O dia pode começar pelo Júlio Verne (1828-1905) sobre um monstro marinho, próximo de onde partem os barcos para as Ilhas Cíes. A estátua do autor francês está ali porque ele ambientou páginas de 20 Mil Léguas Submarinas na Baía de Vigo, explorando o mito de um tesouro naufragado na Batalha de Rande (1702). Diários do escritor anunciados em anos recentes revelam duas elogiosas estadias suas na cidade.
2. Estação Marítima
Realiza diversas exposições. Conta ainda com shopping (e um estacionamento mais em conta, ideal para idas às Cíes).
3. Restaurantes de frutos do mar
Em uma área coberta, a Rua Pescadería reúne cardápios com as melhores iguarias locais, mas a intensidade turística pode estressar – fuja do ambulante e de um recepcionista tentando fazê-lo sentar e você ainda cairá em lojas de infinitos cacarecos duvidosos.
A poucos passos dali, as ruas paralelas Oliva e Palma oferecem restaurantes qualificados com frequentadores nativos e preços mais baixos (menus na faixa de € 10). Dali, são apenas 500 metros até a Praça de Compostela, que estende linda vegetação e algumas valiosas sombras por cinco quadras.
4. Fortaleza e Parque do Castro
Escavações recuperaram construções de um povoado de mais de dois milênios atrás, onde Vigo surgiu. Foram então construídas três réplicas, que mostram como era a vida na época e podem ser visitadas em breves horários (bit.ly/fortavigo). Siga dali para o aprazível miolo do parque, de onde se avista a baía de Vigo. Júlio Verne esteve ali e aprovou. “Vista admirável. A baía. Os vales”, anotou ele.

Ilha de Cíes tem frutos do mar à mesa e belezas rústicas
Ilhas Cíes, para fugir do óbvio. Um areal acumulado formou uma praia que uniu duas ilhas. Com um molhe construído depois, a praia ficou dividida não só entre as ilhas, mas entre uma lagoa e o Atlântico.
Essa união espetacular das Ilhas Cíes pode ser contemplada do alto de um morro facilmente acessível ou do camping local, que amanhece diante dela. Deitado na praia, com 1,2 km de faixa de areia curva, clara e macia, o visitante pode devanear sobre a rica história dessas ilhas. Ou dali sair para apreciar frutos do mar galego, visitar um farol ou outra praia, andar de caiaque, mergulhar. Entre os até 2.200 visitantes diários que as Cíes comportam há muito mais espanhóis que estrangeiros.
Claro que o fato de as ilhas serem pequenas, terem comércio mínimo e limitarem a hospedagem a um camping as tornam bem diferentes de Mallorca ou Ibiza. Para as almas menos urbanas, porém, eis o apelo: meia dúzia de praias e atividades, poucas construções, nenhuma estrada, nem mesmo ciclovia. É possível, em todo caso, ir e voltar de Vigo no mesmo dia. O camping das Cíes tem 800 lugares, mas fora da temporada apenas três pessoas moram ali.
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