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O enigma do Alzheimer: sem tratamento, incidência cai 16% a cada década

Atualizado: 1 de jul. de 2021

Enquanto todos os medicamentos falham, a ciência mostra que a demência não é uma desgraça inevitável na velhice, e sim uma enfermidade que pode ser prevenida em quase metade dos casos



O patologista Alberto Rábano dirige o Banco de Tecidos da Fundação CIEN, com mais de mil órgãos doados à pesquisa das doenças neurológicas ― O cientista reflete sobre um grande paradoxo: mais de um século após a descoberta do Alzheimer, não se conhecem suas causas e não existe nenhum tratamento.


O patologista Alberto Rábano examina cérebros humanos no Banco de

Tecidos da Fundação CIEN, em Madri.



Nada. E, entretanto, a incidência está caindo rapidamente nos países ricos, a um ritmo de 16% por década desde 1988, talvez graças a fatores como a educação e a saúde cardiovascular, segundo um estudo da Universidade Harvard (EUA).


“Não sabemos a causa do Alzheimer e nunca saberemos, porque não há uma causa, há muitas”, afirma Rábano. Até agora, os cientistas se centraram em dois grandes suspeitos. Nos cérebros das pessoas com

Alzheimer, uma proteína chamada beta-amiloide acumula-se entre os neurônios. E uma segunda proteína, chamada tau, forma novelos dentro das células cerebrais. Ainda não está muito claro o papel dessas moléculas na enfermidade. Considerar que estas proteínas são as responsáveis pelo Alzheimer é como chegar à cena de um crime e acreditar que o sangue é o culpado pelo homicídio, nas palavras do neurologista David Pérez, do Hospital 12 de Outubro, em Madri.



A busca por um tratamento, entretanto, esteve centrada em limpar a beta-amiloide do cérebro. Todos os fármacos experimentais fracassaram até agora, mas as autoridades dos Estados Unidos decidiram em 7 de junho autorizar um novo, o aducanumab, fabricado pelo laboratório norte-americano Biogen e vendido a um preço superior a 240.000 reais por paciente por ano. É a primeira vez que se aprova um tratamento que ataca as supostas causas do Alzheimer: o aducanumab limpa a beta-amiloide, mas não ficou demonstrado que isto implique um benefício clínico para os pacientes. Ainda não se sabe se funciona.


O patologista acredita que os erros de diagnóstico são uma das razões históricas para o fracasso na busca por um tratamento. “O Alzheimer nunca está sozinho. Temos que botar na cabeça que não basta diagnosticar o Alzheimer”, explica Rábano. Há no mundo 50 milhões de pessoas com demência, 65% delas com Alzheimer, segundo a Organização Mundial da Saúde. Mas há outras formas de demência, que frequentemente aparecem misturadas: a vascular, a por corpos de Lewy, as taupatias, a encefalopatia LATE. Rábano convida os cidadãos a se tornarem doadores de cérebro, para ajudar na pesquisa. Alguns ensaios clínicos talvez tenham falhado porque fármacos contra o Alzheimer foram testados em pessoas que não tinham só essa doença.


Joaquina García del Moral, professora aposentada de 66 anos e com Alzheimer diagnosticado, recebeu o fármaco experimental aducanumab.



A neurologista Raquel Sánchez Valle, do Hospital Clínic de Barcelona, se mostra otimista. “Mudamos de fase na pesquisa do Alzheimer”, opina. Sua equipe participou do Engage, um ensaio clínico internacional com 1.650 pacientes para provar o polêmico aducanumab. Os resultados não foram conclusivos, mas a pesquisadora salienta que a eliminação da proteína beta-amiloide no cérebro de fato melhorou os indicadores associados à morte neuronal, embora não se chegasse a observar uma melhoria clara nos pacientes. “Precisamos de ensaios mais longos, de muito mais tempo”, explica.


O aducanumab é um anticorpo monoclonal: são as defesas naturais de um idoso lúcido multiplicadas em laboratório. Sánchez Valle recorda que nos próximos dois anos sairão os resultados de outros três fármacos experimentais similares: gantenerumab (da companhia suíça Roche), donanemab (da norte-americana Lilly) e lecanemab (da japonesa Eisai). “Não podemos pretender passar de não ter nada a curar o Alzheimer. O aducanumab é um primeiro passo. E muitas vezes o primeiro fármaco que chega não é o que fica”, aponta a neurologista.


A Agência Europeia de Medicamentos já está estudando os resultados do aducanumab para avaliar sua possível autorização na UE. E a polêmica está garantida, na opinião do médico César Hernández, da Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários. “É uma discussão que dará muito o que falar na Europa. Há muitíssima controvérsia sobre se as placas de beta-amiloides realmente refletem o avanço da doença”, afirma. Dos 104 medicamentos experimentais que estão sendo testados no mundo contra as supostas causas do Alzheimer, 16 estão focados na proteína beta-amiloide, e outros 11 na proteína tau.

Em protesto pela aprovação do aducanumab nos EUA, três especialistas se demitiram do comitê independente que assessorava a FDA (agência reguladora de medicamentos). O neurologista David Knopman, da Clínica Mayo, foi um deles. Antes de renunciar, tinha afirmado ser “indefensável” autorizar um remédio sem benefício clínico claro após 18 meses de tratamento. “Em muitos aspectos, estamos ganhando a guerra contra o Alzheimer, mas numa luta de tão longo prazo não vamos ganhar todas as batalhas”, reflete.


Uma comissão organizada pela revista médica The Lancet calculou no ano passado que modificar uma dúzia de fatores de risco pode evitar ou retardar 40% das demências. As 12 variáveis são: a falta de educação, a hipertensão, a incapacidade auditiva, o tabagismo, a obesidade, a depressão, a inatividade física, o diabetes, o isolamento social, o consumo excessivo de álcool, os golpes na cabeça e a poluição atmosférica. Na América Latina, o percentual evitável de casos de demência alcança 56%, segundo os mesmos autores.


A neurologista Raquel Sánchez Valle, de 50 anos, acha que o tratamento chegará mais cedo do que se imagina. Os países do G-8 se comprometeram oito anos atrás a terem uma cura ou uma terapia efetiva contra a demência em 2025. “Não teremos uma cura em 2025, mas espero ver um tratamento eficaz antes de me aposentar”, afirma a médica. “E não será o aducanumab.”

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