“Os homens são tão simplórios e obedientes às necessidades imediatas, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar”
Difícil diagnosticar o imaginário da sociedade brasileira ante o Poder instituído, sem lembrar de algumas retóricas de um dos maiores e mais polêmicos filósofos e pensadores da era florentina renascentista: Nicolau Maquiavel (1469 – 1527). Ele não era só um filósofo. Era ainda poeta, historiador, músico e diplomata, simples assim. Mas foi o fundador do pensamento e da ciência política moderna, exatamente por ter escrito sobre o Estado como eles são e não como deveriam ser.
Vocês com certeza já ouviram alguém dizer que fulano ou cicrano gosta de ser enganado, né? E quando o assunto é política então... aí é que essa expressão assume uma importância ainda maior. Mas não é só na política. Nas relações humanas, tipo casamento, namoro, paixões, todo esse universo é pautada por ilusões, traições, mas no fundo mesmo, a impressão é que a humanidade gosta de ser enganada, sabe que é, mas faz vista grossa. Talvez pelos incômodos e danos morais que causariam a quebra de determinados valores. Nas crenças religiosas então... melhor deixar quieto. E vida que segue.
Mas eu estou lembrando Maquiavel, porque ele era quem argumentava isso. Viveu em uma Florença , na época em que ela era berço do renascimento das artes e da cultura europeia. Foi duramente criticado pelo Poder após sua morte. Claro, incomodou a todos pelo choque de ideias sobre o poder e em especial a igreja católica devido às suas análises no livro “O Príncipe”. Já na literatura e nos teatros ingleses do século 17 foi associado diretamente ao diabo por meio das referências caricaturais e do apelido “old nick”. Foi daí que surgiu a ideia de pensamento enganoso e o adjetivo “maquiavélico”, que em termos gerais significa alguém “capaz de tudo pelo poder”.
PUBLICIDADE
E nesse contexto o que ele parecia dizer era que todos nós gostamos de ser enganados. Se dizer que gostamos é forte, vamos pensar que pelo menos, admitimos ser enganados.
E quando pensamos na política brasileira, e em como a sociedade se projeta, sendo constantemente enganada, evocamos Maquiavel. No Rio de Janeiro então, nem se fala. Os fluminenses vêm ao longo de três décadas errando nas suas escolhas eleitorais e não conseguem se redimir. Erram, erram e erram. E a prova é de que de suas escolhas brotaram pelo menos cinco governadores que foram condenados pela Justiça e dos quais até hoje um deles continua preso. A sociedade, leia-se os eleitores, parece não entender o que está acontecendo, mas sabe, no fundo sabe que está sendo enganada e assim tem sido.
Mas olhando para frente, e já que estamos em plena caminhada para o dia das eleições para à presidência do Brasil e de governadores para alguns estados que serão definidos em segundo turno deixo vocês com esse pensamento de Nicolau Maquiavel:
“O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta”.
Sacou o recado? O problema é que cada brasileiro tem um espelho.
Comments